SER OUTRO SENDO EU
Meus
olhos estão tristes e magoados, um olhar sem gosto e distante.
Num
levantar lento e triste, com gestos repetidos de todos os dias me
afeiçoo sem
sentido. Preso a uma dor que parece não ter fim, caminho
lento pelo vazio, que
outrora cheio de vida, hoje só o silêncio se ouve.
Tudo é tão distante e
impossível de alcançar, mesmo que seja a coisa
mais trivial que possa existir. As
coisas que preciso para sair deste
labirinto do nada, estão longe do meu
alcance.
Queria
ser por vezes o mais idiota dos homens, para não sentir a
dor de quem vê e
sente as coisas do mundo. Muitas das vezes sinto
a necessidade de me passar por
ignorante, e assim criando um vazio
dentro de mim que me traz a paz, para não entrar em conflito comigo
mesmo e
com os outros. A verdade se ausenta por algum tempo,
que me faz distrair da
dor.
Nesses
momentos é como eu não existe-se, nada vejo, nada sinto,
não penso, e para isso
acontecer, todos os meus sentidos passam
por uma anestesia de ignorância. Mas a
ilusão da ignorância acaba
por ir embora, porque não me pertence.
Carlos Ferrer