Cegueira

Sempre que me telefonas, sempre que oiço a tua voz
De menina carregada de mimos, meus olhos brilham.
A alegria de tu existires me faz sentir fé para a manha
Seguinte, até que o luar venha de novo.
E de baixo da luz da lua fazemos promessas.
Tenho por ti uma alegria ferida. Por um dia partires.
De bateres as asas e voares, para onde o teu coração
Quiser. Seguir o instinto da vida, sem olhar para trás.

CARLOS FERRER


O drogado é um guerreiro
Que deserta do destino.
É um ser por inteiro que desvanece pequenino
É o bicho   da madeira cujo a fome não sacia,,.
Roendo moveis que tem, vendendo o corpo da tia. a
É ser cúmplice da morte, quando essa não nos tem.
É viver assim á sorte!
É ser filho de outra Mãe.

Carlos  Ferrer  



MENINA DOS OLHOS TRISTES 2 

Teu olhar inocente e o corpo de menina, que há-de ser mulher um dia.
Ao teu escolhido o entregarás, mas serás sempre a minha menina.
Por ti me levantei, por ti chorei, por ti meu olhar sorriu outra vez.
Me entreguei à vida para que não chorasses o meu adeus.
Tua alma, minha alma!
Meu sangue, teu sangue!
Teus olhos o luto os cobri-o quando me viste partir.
Ah esse olhar que é só teu, desperta sentimentos e a dor de quem ama.
Foste paisagem dos meus poemas, teus cabelos ondas do mar,
num vai e vem sereno, teu corpo a infinita beleza, tua boca o desejo de a beijar.
Toda essa beleza que se vê é insignificante perante a beleza
que trazes dentro de ti. Teu nome será sempre poema.

 Carlos Ferrer 9/2/13

SER OUTRO SENDO EU

Meus olhos estão tristes e magoados, um olhar sem gosto e distante.
Num levantar lento e triste, com gestos repetidos de todos os dias me
afeiçoo sem sentido. Preso a uma dor que parece não ter fim, caminho
lento pelo vazio, que outrora cheio de vida, hoje só o silêncio se ouve.
Tudo é tão distante e impossível de alcançar, mesmo que seja a coisa
mais trivial que possa existir. As coisas que preciso para sair deste
labirinto do nada, estão longe do meu alcance.
Queria ser por vezes o mais idiota dos homens, para não sentir a
dor de quem vê e sente as coisas do mundo. Muitas das vezes sinto
a necessidade de me passar por ignorante, e assim criando um vazio
dentro de mim que me traz a paz,  para não entrar em conflito comigo
mesmo e com os outros. A verdade se ausenta por algum tempo,
que me faz distrair da dor.
Nesses momentos é como eu não existe-se, nada vejo, nada sinto,
não penso, e para isso acontecer, todos os meus sentidos passam
por uma anestesia de ignorância. Mas a ilusão da ignorância acaba
por ir embora, porque não me pertence.

Carlos Ferrer

ADORMEÇO CONTIGO

Já o dizem que és a minha alegria, e a luz do meu dia!
Ver-te crescer, ensinar-te, e aprender contigo, para mim tudo seria.
Quando a noite se veste de luto, escura e fria, te deitas ao meu lado
para que eu não fique só. Um pouco do teu calor e a tua alegria, aliviam a minha solidão.
Ouço a tua voz cantando para mim!
Um arrepio sobe pelo meu corpo, e uma lágrima desce,
leva com ela toda a saudade, e o sabor a mar.
Já o dizem que és minha alegria, e a luz do meu dia!
Ah meu Deus, se tu aqui estivesses! Se tu aqui estivesses certamente sorrias para mim com um
abraço, e os teus olhos brilhavam mais do que um rio cor de prata, ao luar.
Recordar-te é como uma canção de embalar, e ao adormecer sinto o teu beijo.
Prometo-te em voz baixa, que te vou buscar. E adormeço contigo nos meus braços.

Carlos Ferrer

Uma Noite de Insónia

Como uma aparição vejo-a constantemente, de todas as formas e estados emocionais!
Aí, percebo que amar é Recordar, pensar, sonhar alegremente e tristemente.
Espero eternamente pela manhã, que ela me traga um milagre, qualquer que seja ele, mas que me tire da angústia e do sofrimento.
Calmamente surge o amanhecer, e com ele o primeiro milagre – O Nascer do Sol –.
O frio se despede do meu corpo descomposto sobre a cama totalmente desarmada, sinto o calor não do sol que atravessa a pequena janela do solitário quarto, mas da sombra que cai sobre mim!
Eis o que ansiava! Não sei se é real ou delírio meu. Seu movimento vem sobre mim e me beija. O calor dos seus lábios húmidos me dão o alívio, e o descanso de pensar! Adormeço depois em seu corpo aconchegado.
 
Carlos Ferrer.

Quadro

Quadro de Carlos Ferrer


TANGOS AO LUAR
O quadro que eu criei, a que lhe dei o nome
TANGOS AO LUAR, representa a minha infância.
Quando de noite em volta de uma fogueira
ouvíamos histórias contadas pelos mais velhos.
E quase sempre depois pegávamos numa viola, tudo
isto iluminado pela luz da lua e de uma fogueira,
que nos aquecia a voz e a alma.
Todas estas coisas eram uma rotina quase diária,
hoje são apenas lembranças. O romantismo cigano
quase desapareceu, substituído pela coca-cola e as
batatas fritas. Fomos atrás da sociedade falsa e
hipócrita, e acabamos por ficar iguais.
O mistério, e o encanto, a alegria e a tristeza que
nos distinguia já pouco sobra.