MENINA DOS OLHOS TRISTES 2 

Teu olhar inocente e o corpo de menina, que há-de ser mulher um dia.
Ao teu escolhido o entregarás, mas serás sempre a minha menina.
Por ti me levantei, por ti chorei, por ti meu olhar sorriu outra vez.
Me entreguei à vida para que não chorasses o meu adeus.
Tua alma, minha alma!
Meu sangue, teu sangue!
Teus olhos o luto os cobri-o quando me viste partir.
Ah esse olhar que é só teu, desperta sentimentos e a dor de quem ama.
Foste paisagem dos meus poemas, teus cabelos ondas do mar,
num vai e vem sereno, teu corpo a infinita beleza, tua boca o desejo de a beijar.
Toda essa beleza que se vê é insignificante perante a beleza
que trazes dentro de ti. Teu nome será sempre poema.

 Carlos Ferrer 9/2/13

SER OUTRO SENDO EU

Meus olhos estão tristes e magoados, um olhar sem gosto e distante.
Num levantar lento e triste, com gestos repetidos de todos os dias me
afeiçoo sem sentido. Preso a uma dor que parece não ter fim, caminho
lento pelo vazio, que outrora cheio de vida, hoje só o silêncio se ouve.
Tudo é tão distante e impossível de alcançar, mesmo que seja a coisa
mais trivial que possa existir. As coisas que preciso para sair deste
labirinto do nada, estão longe do meu alcance.
Queria ser por vezes o mais idiota dos homens, para não sentir a
dor de quem vê e sente as coisas do mundo. Muitas das vezes sinto
a necessidade de me passar por ignorante, e assim criando um vazio
dentro de mim que me traz a paz,  para não entrar em conflito comigo
mesmo e com os outros. A verdade se ausenta por algum tempo,
que me faz distrair da dor.
Nesses momentos é como eu não existe-se, nada vejo, nada sinto,
não penso, e para isso acontecer, todos os meus sentidos passam
por uma anestesia de ignorância. Mas a ilusão da ignorância acaba
por ir embora, porque não me pertence.

Carlos Ferrer